Para as religiões afro-brasileiras o corpo é a morada de deusas e deusas e por isso necessita de cuidados. Inkices, voduns, orixás, caboclos, pretos-velhos, pombas-gira e encantados necessitam do corpo dos iniciados para trazer suas mensagens para os seres humanos.
O cuidado com o corpo pode ser observado na fala de Mãe Beata de Iemanjá (mãe de santo do Ilê Omi Ojuarô-RJ): “A cabeça é o jarro cheio de rosas maravilhosas e o corpo é a mesa que sustenta esse vaso. Se a mesa estiver com o pé quebrado o jarro vai cair e quebrar”. Ela chama a nossa atenção para a importância do equilíbrio das partes para manutenção do bom funcionamento do todo.
Nos terreiros a saúde acontece em três dimensões: saúde mental, saúde do corpo e saúde espiritual. A noção de saúde e doença está associada ao conceito de axé – energia da vida. O axé como energia pode aumentar ou diminuir causando o equilíbrio ou o desequilíbrio.
A doença para as religiões afro-brasileiras pode ser considerada um desequilíbrio ou uma ruptura entre os mundos dos humanos e o mundo sobrenatural. Muitas vezes uma experiência, entendida na lógica da medicina oficial como distúrbio do corpo físico e/ou
da mente, são para as religiões afro sinais ou manifestações de deuses e deusas. Exemplo disso são os casos de iniciações por problemas de saúde.
Vários são os procedimentos utilizados para o reequilíbrio das pessoas e alguns deles serão relacionados a seguir: o jogo de búzios, os ebós, o bori, as iniciações, o uso das folhas, ervas raízes e flores, os banhos, as benzeduras, as beberagens, o aconselhamento, etc. Cada tradição religiosa afro-brasileira utiliza um procedimento ou combinações de procedimentos visando restabelecer a saúde das pessoas.
No jogo de búzios, o sacerdote ou a sacerdotisa além descobrir o problema que aflige a pessoa (o consulente), repassa também o que é preciso fazer para solucioná-lo. O jogo de búzios também permite aconselhar as pessoas para escolher o melhor caminho a seguir. O bori, que quer dizer dar comida à cabeça, é fundamental para fortalecer a cabeça do indivíduo e fortalece também os laços com a comunidade e com a própria tradição.
Enfim podemos dizer que todos os procedimentos rituais são também procedimentos terapêuticos, pois envolvem cuidado, carinho e atenção, propiciando o reforço da energia vital (axé).
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